Reflexão sobre o Meu Relacionamento Poliafetivo
- João Geraldo Netto
- 29 de mar.
- 4 min de leitura
Nos últimos tempos, tenho refletido muito sobre como vivemos os relacionamentos. Desde que entrei no mundo dos relacionamentos poliafetivos, percebi que a forma como idealizamos as pessoas e as nossas expectativas pode ser muito limitante. Hoje, quero compartilhar algumas reflexões que me ocorreram enquanto pensava sobre isso.
Quantas vezes você já se pegou idealizando um amigo perfeito? Aquele que sempre está lá para te apoiar nas festas, que não te dá dor de cabeça e que é o melhor companheiro para viajar? É fácil pensar que, para amizades, podemos ter várias pessoas diferentes para suprir nossas necessidades. No entanto, quando se trata de relacionamentos amorosos, muitas vezes nos limitamos a buscar uma única pessoa que preencha todas as nossas expectativas.
Por que não podemos aplicar a mesma lógica que usamos para amizades em relacionamentos amorosos? A ideia de que precisamos de um parceiro que seja tudo o que desejamos é uma armadilha. A verdade é que podemos ter múltiplos parceiros, cada um oferecendo algo único e especial. Isso me levou a refletir sobre como podemos ser mais felizes e completos quando permitimos que diferentes pessoas preencham diferentes aspectos de nossas vidas.
Idealizar as pessoas é algo que todos fazemos, seja em relacionamentos, no trabalho ou em nossas vidas pessoais. Estamos sempre buscando o "trabalho perfeito", a "viagem perfeita" ou o "futuro perfeito". No entanto, essa idealização pode nos levar a frustrações e insatisfações. O que acontece quando a pessoa que amamos não atende a todas as nossas expectativas? A resposta é simples: precisamos aprender a valorizar o que cada um pode nos oferecer, em vez de esperar que sejam tudo o que queremos.
Me assumir como uma pessoa poliafetiva tem sido uma jornada desafiadora. Apesar de ter me assumido como gay antes, a aceitação do poliafetivismo trouxe à tona questões mais complexas, especialmente em relação à minha família e ao que a sociedade espera de nós. Com 42 anos, percebo que o que realmente importa é me permitir amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
Essa nova perspectiva me fez repensar a ideia de que uma única pessoa deve atender a todas as minhas necessidades emocionais. Agora, posso ter vários parceiros, cada um trazendo algo único para minha vida. Isso não significa que estou incompleto; pelo contrário, estou aprendendo a ser mais completo através das relações que construo.
Hoje, tenho dois namorados, e já tive até quatro ao mesmo tempo. Cada um deles é diferente, e isso é maravilhoso. Em vez de esperar que um único parceiro seja o "melhor em tudo", aprendi a aceitar e valorizar o que cada um pode me oferecer. Um pode ser o melhor companheiro de viagem, enquanto o outro pode ser mais carinhoso ou ter uma química sexual incrível.
Essa diversidade nas relações me trouxe leveza e satisfação. Não estou mais buscando um parceiro ideal que atenda a todas as minhas expectativas. Em vez disso, estou feliz com o que cada um pode me dar e com o que posso oferecer a eles.
Uma pergunta que sempre surge é: "Você precisa estar completo para amar outras pessoas?" Meu psicólogo me fez essa pergunta e, inicialmente, eu dizia que sim. Mas agora, percebo que a busca por completude é uma construção social. Não precisamos ser completos para amar; podemos simplesmente ser quem somos e permitir que os outros nos completem de maneiras diferentes.
É muito mais saudável ter o que queremos de várias pessoas do que buscar a perfeição em um único parceiro. Isso nos permite dar e receber amor de maneira mais autêntica. Às vezes, posso ter que dar muito mais de mim, especialmente se tenho vários parceiros, mas isso faz parte da beleza de ter relacionamentos poliafetivos.
Refletindo sobre meus relacionamentos anteriores, percebo que muitos deles foram tóxicos, não apenas por causa do outro, mas também por minha necessidade de que uma pessoa atendesse a todas as minhas expectativas. Essa pressão de esperar que alguém suprisse todas as minhas necessidades gerou conflitos e frustrações. Hoje, a leveza que sinto nos meus relacionamentos poliafetivos é um alívio. Não sinto mais a pressão de ser tudo para alguém.
Estou aprendendo a respeitar o que cada um pode me dar e a valorizar as diferenças. Cada relacionamento traz uma nova dinâmica, e isso é algo que me enriquece. Acredito que muitas traições e desentendimentos nas relações tradicionais vêm dessa expectativa irreal de que uma única pessoa deve ser tudo.
Hoje, estou aberto a novos relacionamentos, desde que a outra pessoa compreenda quem eu sou. Essa jornada não foi fácil; levou tempo e dor para chegar a esse ponto. No entanto, não quero mais agir de acordo com o que a sociedade espera. Quero viver minha verdade e ser autêntico nas minhas relações.
Viver relacionamentos poliafetivos é uma experiência complexa, mas não difícil. É tudo uma questão de abertura e disposição para dar e receber. Aprendi que o respeito é fundamental, e que cada um pode oferecer algo único. O importante é estar disposto a ouvir e a se conectar de forma genuína.
Quero saber de você: você se identificaria com a ideia de um relacionamento poliafetivo? Ou preferiria um relacionamento aberto? Quais seriam suas expectativas em um relacionamento que te deixasse feliz e completo? É interessante pensar sobre isso, pois nossas percepções podem mudar ao longo do tempo.
Todos nós buscamos a completude de alguma forma, e isso é natural. O que importa é como você enxerga isso e como se permite viver seus relacionamentos. Acredito que, ao refletir sobre essas questões, podemos encontrar formas mais saudáveis de nos relacionar. Um abraço e até a próxima reflexão!
Comentarios