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O Legado do Papa Francisco



Por Fabi Mesquita Guarani: A espiritualidade é algo que existe por si. Para sermos espirituais, não precisamos ter religião — conceitualmente, até um ateu pode ser uma pessoa profundamente espiritual. A espiritualidade habita aquela dimensão onde vivem a empatia, a ética, a compaixão e o senso de justiça. Ela é, talvez, o que nos faz verdadeiramente humanos.


Partindo dessa premissa, a perda do Papa Francisco representa muito mais do que uma perda para o cristianismo ou para qualquer tradição religiosa. Em tempos em que, como alertava Brecht, “a cadela do fascismo está novamente no cio”, vozes como a dele se tornam escudos vivos contra o avanço da barbárie. Sua coragem em enfrentar os poderes da morte — dentro e fora da Igreja — fez dele um líder espiritual da humanidade, não apenas dos católicos.


Francisco se colocou ao lado dos pobres, dos povos indígenas, das mulheres, das pessoas LGBTQIA+, dos imigrantes e refugiados, mesmo enfrentando resistência feroz. Condenou os abusos de menores na Igreja com firmeza inédita. Denunciou a destruição ambiental e clamou por justiça climática. Seu papado foi, antes de tudo, um testemunho radical de humanidade, simplicidade e compromisso com a vida.


Fabi Mesquita é Coordenadora de Comunicação e Marketing do Instituto Multiverso
Fabi Mesquita é Coordenadora de Comunicação e Marketing do Instituto Multiverso

Hoje, o mundo perde uma de suas maiores referências éticas. Mas seu legado permanece — em cada gesto de cuidado, em cada palavra que consola, em cada ato de resistência contra o ódio. Que sua memória nos inspire a seguir construindo pontes, e não muros.


Com sua partida, o mundo parece um pouco mais órfão — nós, que somos católicos, protestantes, candomblecistas, budistas, judeus, muçulmanos ou ateus, todos sentimos essa ausência. Sua voz era uma convocação ética que atravessava religiões, fronteiras e ideologias, sempre em defesa da dignidade humana. Foi assim durante a pandemia de COVID-19, quando, já com a saúde fragilizada, permaneceu em pé, sozinho sob a chuva na Praça São Pedro vazia, orando por toda a humanidade. Um dos momentos mais simbólicos da espiritualidade em tempos de dor coletiva.


Sua morte, ocorrida pouco após seu último discurso papal, carrega o peso de um sinal: Francisco partiu como viveu — com o coração voltado ao povo, clamando por paz, justiça e o fim da violência. E partiu, também, sem ver cessar o genocídio em Gaza, causa à qual dedicou suas últimas orações. Seu legado segue vivo em cada ação por direitos humanos, em cada vida protegida do ódio, em cada gesto de compaixão que resiste à crueldade dos tempos.

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